quarta-feira, 6 de junho de 2007

Cume

Paredes de bocas abertas comem as cinzas dos seus antepassados enquanto os seus olhos oblongos manifestam o desejo de regurgitar as vidas que consomem. Subi a montanha de paredes e bocas e no seu cimo encontrei o sítio onde Ele esconde os seus comandos. o mundo a meus pés no dia em que Deus desceu à Terra.

E no topo do mundo póstumo, jaziam as caixas de correio cheias de cartas desesperadas àquele não presente. Alguns envelopes carabinas descarregadas estavam mesmo espalhadas pelo exíguo chão. Havia tanto silêncio que ainda se escutava a pulsação da tinta dos escritos. A face de Deus era um túmulo aparafusado ao limiar dos cumes possíveis. O silêncio suficientemente silencioso para se ouvir o vento a sussurrar de entre as nuvens, afastando o sol do solo um pouco mais. Rasteirando o céu do seu expoente, no cimo da montanha, no seio do mundo.

O metal cantava a sua cantiga, amarga, oxidosa e as caixas abriram-se, e verteram pólvora por cima dos escritos, abafando a sua tinta pulsante em cima do silêncio. Era tudo morte, aconselhada pela psoríase de ferrugem do metal e, dentro de mim, detinha-se momentaneamente uma mágoa a tracejado por cima do vazio, sem aparente vontade de viajar para arquipélagos diferentes. Sorria a um sol que se esbranquiçava de temor e acenava-lhe adeus de um lugar sem esperança. Fechava-se a possibilidade dos fogos.

Ao abrir os olhos, notei que o tempo era esfaqueado e o relógio sangrava 3:32 da manhã. Receando nunca mais sair do topo da montanha, rezei para adormecer e assim poder ir lá buscar-me.

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