quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

As Paredes Da Tua Cama

É supérfluo pensar que somos melhores. O que nos distingue é o sexo. Não o género. O acto sexual em si. É desgastante, porém, pensar que como tu comes quem comes e porque comes, a escolha faz de ti quem és. A escolha preconiza-te como meretriz (puta) ou como somente uma pessoa de bom gosto (mau visto que ficámos de fora). A lista que passa na tua cabeça apenas os tem como modelos, mas seria hipócrita da minha parte não admitir fazer o mesmo. Bom modelos não, anorexia não é a minha cena. Mas. Voltando a ti, a tua escolha decide a tua personalidade (ou a falta dela). Ainda no assunto do sexo, nunca é suficiente para ti (suficientemente bom). Nós, os outros, espreitamos do lado de cá com o augúrio de um dia sermos escolhidos em breve. Tenho fé em ti, um dia irás acordar e pensar no que tens perdido. A pergunta é simples: sabes o que tens perdido?

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Penso no que tenho perdido. Seria um pensamento megalómano poder foder todos os homens à superfície da terra e determinar aquele com melhor desempenho. O acto sexual em si, é desgastante, porém pensar que da maneira que como eu como quem como, a escolha faz de mim quem sou. Tenho no acesso restrito às minhas pernas abertas a determinação do reflexo visual da minha alma. Aos poucos, encontrei na água do sexo um método melhor para definir o meu reflexo. O espelho que me apresenta a minha própria face está não tanto no movimento incessante daqueles que me penetram, mas muito mais nas contracções do orgasmo. É nesses raros segundos que me encontro em mim, ou que outros me dão a conhecer de outro modo sem ser daquele que eu gosto? Será que alguém o quer fazer? Sejamos honestos, eu sou uma puta. Foder-me-ão de outro modo?

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Boa pergunta. As tuas contracções dão-te a conhecer melhor do que o simples pensamento sobre quem tu serás. Sim, puta, mas nem por isso precisas de perder o sentido moral que está incito em todos nós e por conseguinte perder aquilo que te resta. Na verdade o sexo é para ti o oposto do que é para mim. Se pensares no orgasmo como o momento em que mais te aproximas de Deus então a tua fé resume-se àquilo em que és realmente boa (e porque não?). Nesta tua cama de pecado encontra-se o significado da tua vida. Mas chamar-lhe “acesso restrito” é um pouco como dizer que uma auto-estrada tem limite de velocidade quando ninguém o cumpre. Sejamos verdadeiramente honestos, tu não tens limite, aliás nem deves ter, limitares-te é limitar a humanidade sob um pretexto de “moralmente aceitável”. O teu sexo define-te. O teu sexo define-nos a todos.

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Não sei, não sei, não sei. Não. Sei. Eu sei. Pouco mais procuro que isto porque mais sou que isto mas isto não é pouco. É um todo preso em poucos segundos que define outro todo que converge sempre para este momento. Criar um limite a isto seria mutilar a essência de algo maior, logo, negar-me. Não o posso fazer. Não posso inferiorizar a capacidade estender segundos e torná-los excelentes. Mesmo que isso feneça todos os outros. Não tenho possibilidade de optar sobre este poder. Não posso poder mais do que posso.

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Seja feita a tua vontade...

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